‘Conseguiu o que queria’: amigo de montanhista escreve carta de despedida após buscas serem suspensas
Em seu texto, amigo de Edson Vandeira revela que o fotógrafo “sempre falou do Artesonraju como a montanha da sua vida'
| MIDIAMAX/JOãO RAMOS
Após as buscas pelos três montanhistas desaparecidos no Peru serem interrompidas, Gabriel Tarso, amigo de Edson Vandeira, um dos desaparecidos, escreveu uma carta em tom de despedida. Desesperançoso diante do cenário, Tarso publicou um texto emocionante em suas redes sociais, ilustrado com imagens de Edson fazendo o que mais amava.
No vídeo, o fotógrafo brasileiro que morou em Campo Grande (MS) aparece tirando fotos do alto do topo de uma montanha, unindo suas duas atividades preferidas: escalar e fotografar. Entretanto, a carta aberta do amigo Gabriel dá às imagens uma nuance que ele não gostaria.
“Que vacilo hein, meu irmão. Você sempre falou do Artesonraju como a montanha da sua vida. A mais linda, a mais incrível. E como tudo que você fazia, foi lá e tocou pra cima. Do seu jeito mesmo: meio Mazzaropi, meio Supertramp — desengonçado, ermitão iluminado. Nunca foi de planos fáceis”, inicia o texto.
“E claro que seria justo a tal montanha da abertura da Paramount. Você sempre teve esse dom pra virar cena de cinema. Agora virou parte da lenda da montanha mais emblemática do audiovisual mundial. Dramático, épico e espirituoso. Só você mesmo”, continua.
O amigo ainda relata uma atitude da mãe de Edson, que está no Peru desde semana ada acompanhando as buscas.
“Esses dias estive no seu quarto, em Huaraz. Sua mãe ao invés de tirar um cochilo na cama, dormia no chão, em cima das mochilas velhas e vazias. Disse que gosta de um cantinho assim. Agora tudo faz sentido! A falta que você deixou faz barulho. É saudade que ocupa espaço. Espaço que antes era preenchido pelas suas piadas de quinta série, planos mirabolantes e aquela fé que dava até raiva porque no fim, sempre dava certo no improviso”, diz o texto.
Leia o restante da carta:
“Agora fica esse buraco esquisito aqui dentro. Uma mistura de orgulho, saudade e raiva. Mas sei que se pudesse, você ia soltar algo tipo: ‘Ah, mas também… morrer numa montanha qualquer não tinha graça nenhuma…’
A gente correu atrás de tudo: vakinha, helicóptero, pistas, drone… aliás, o seu drone sumiu da barraca. Kkk. Você dizia que no Peru não dava pra marcar bobeira mesmo. E foi Bonito demais ver tanta gente se movendo por você. Você foi — e é — muito amado. A montanha não te levou sozinho. Levou um pedaço da gente também.
No fim, você conseguiu o que queria: estar onde sempre sonhou. Não do jeito que a gente esperava claro, mas com a intensidade que sempre viveu. Você virou história. Virou lenda. Virou montanha. Vai em paz, irmão.
Te carrego comigo. Sempre”.
O que aconteceu com os montanhistas
Nesta quinta-feira (12), os escaladores completam 12 dias desaparecidos. O fotógrafo brasileiro Edson Vandeira e os peruanos Efraín Pretel Alonzo e Jesús Picón Huerta, colegas no curso de formação de guias do Ceam (Centro de Estudos de Alta Montanha), tinham o objetivo de completar a rota de ascensão ao cume do nevado Artesonraju, a cerca de 6.025 metros de altura.
O trio deveria ter retornado no dia 1º de junho, mas parou de estabelecer contato desde o dia 29 de maio, quando iniciaram a escalada.
De acordo com informações divulgadas pela AGMP, a barraca do grupo foi encontrada vazia na madrugada do resgate. Além disso, há indícios de que eles tenham alcançado o topo da montanha e, possivelmente, algo grave ocorreu durante a descida.
Buscas foram suspensas
Equipes de resgate que realizam as buscas para encontrar três montanhistas que desapareceram no nevado Artesonraju, no Peru, decidiram interromper os trabalhos. A previsão é que as operações sejam retomadas dentro de 20 dias. Edson Vandeira, fotógrafo brasileiro que já morou em Campo Grande (MS), está entre os desaparecidos.
De acordo com a AGMP (Associação de Guias de Montanha do Peru), responsável pelos comunicados oficiais a respeito do caso, os trabalhos foram pausados temporariamente para garantir a segurança dos envolvidos, por conta das adversas e inconstantes condições climáticas na montanha.
Assim, as buscas só devem recomeçar em aproximadamente três semanas e se as condições meteorológicas permitirem a continuidade com todos os protocolos de segurança.
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